O amor é doce

Em tempos de amores frágeis, nada mais relevante do que ajudar a formar um par. E desconfio que o chocolate tem esse poder.

Mariana ia sempre na loja às quartas-feiras à tarde, pedia um café curto, um brigadeiro de avelã e ficava ali no balcão, escondida atrás de um grande fone de ouvido, namorando a solidão. Renato costumava aparecer às sextas, sempre no finzinho da tarde, carregando uma mochila e um guarda-chuva, alheio ao mundo e ao próprio coração.  Fone de ouvido do mesmo modelo do dela,  sentava sempre na mesma cadeira e pedia também café curto e brigadeiro de avelã.  Se não me engano foi numa segunda-feira que da cozinha, avistei os dois, cada um num canto do balcão. Enrolei às pressas dois brigadeiros de avelã e usei o pretexto do doce para apresentar o casal. E não é que vingou? Estão morando juntos há 5 anos e adotaram uma vira-lata bege que batizaram de Avelã.

Já o Paulo pediu a Carol em casamento com um pote grande de brigadeiro de colher. Romântica incorrigível, confesso que infringi feio as boas práticas de higiene e a pedido dele mergulhei um anel de brilhante dentro do doce. Soube depois que quando a noiva desengasgou e conseguiu cuspir o anel longe, ela disse que sim, que aceitava casar com ele com a condição de que nunca mais enfiasse metais (ainda que preciosos) na sobremesa preferida dela. Justo.

As cantadas com chocolate também costumam funcionar. Faz algum tempo entrou um rapaz na loja exalando corações. Seu plano? Conquistar uma garota que ele tinha conhecido numa festa mandando brigadeiros todos dias na casa dela, com um bilhete com um número do celular dele, até completar a sequência toda.  Parece que  depois de uma semana  ela finalmente se comoveu e ligou para ele. Foram jantar juntos no bistrô aqui do lado e se apaixonaram.

E não é só o Paulo que usa chocolate como expediente de conquista. No século XVI, o imperador asteca Montezuma seduziu suas 200  esposas bebericando seu chocolate quente com especiarias. Já eu,  que acredito na monogamia com a inocência de um pinguim, confesso que sempre usei o chocolate para fins casadoiros. No mês de junho, para os namorados, faço sempre uma torta recheada com brigadeiro afrodisíaco, e para os sem namorado, capricho no brigadeiro para santo Antonio, que vem com um santo, simpatia para encontrar um amor e um pote grande de brigadeiro para adoçar a espera. E da cozinha, atrás do balcão, vou mexendo meus pauzinhos, quer dizer, minhas panelas, na eterna intenção de unir quem ainda não se achou.

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